PROGRAMA POROROCA


Instituto Casa de Criadores




nó, textotêxtil, tecido social


ARTISTAS: Bruna Ferreira Soares,
Bartira Lôbo, Arthur Doomer, Bruno Cosme Mendes de Almeida, Barbara Ozelim, Brendo Mathias
INTERLOCUÇÃO: Bruno Mendonça


Palavras, tendas nômades armadas ao longo de uma vida reunidas, acampamento de uma noite.
Paul Zumthor



O Grupo 3 - nó, textotêxtil, tecido social fez parte do programa de formação “Qual Moda para Qual Mundo?” do Instituto Casa de Criadores. O grupo de artistas participantes desenvolveu esta publicação online como desdobramento do projeto. O grupo contou com a provocação do artista convidado Bruno Mendonça.

A publicação pode ser considerada um zine online de caráter multimídia com experimentos audiovisuais, textuais e gráficos.

O zine é resultado de um intenso processo de interlocução entre Bruno Mendonça e artistas do grupo e pode ser pensado como uma narrativa expandida, uma escrita de si que se confunde com uma escrita de outre. uma escrita que foi escuta e uma escuta que foi escrita.  Um hipertexto. São mais perguntas do que respostas, porque afinal, estamos lidando com uma "política da dúvida". Um texto baba, que desatou nós que estavam na garganta. Porém, esses mesmos nós que foram desfeitos, deram vida a muitas linhas que criaram conexões entre diferentes corpas e subjetividades.




texto baba





Responder a esse questionamento é um desafio filosófico. Criar um mundo que faça sentido para si é o exercício diário de criação. Corpos, traços, jeitos, vozes, sotaques, gostos, estilos, linguagens. Se a moda é linguagem para quem ela comunica? Um universo inteiro que cada sujeito confecciona através de sua existência no mundo. Temos em NÓS a similaridade da diferença. Expandindo as mensagens para que possamos falar por nós mesmos. A busca da expressão criativa como exercício pode ser uma chave libertadora dos lugares de sujeição. Através desses dispositivos, comunicamos um mundo que talvez não exista no mundo do outro. Desejamos construir uma existência que não seja reproduzida em série. Queremos o não-encaixe.
Bartira Lôbo 


 
“não sei nem mesmo se
há uma ponta de saída”
Bruno Cosme

Enlaçamento de fios, de linhas, de cordas, de cordões, fazendo com que suas extremidades passem uma pela outra, amarrando-as.
Cerne; o mais importante ou o essencial de:
o nó do problema.
Vínculo; ligação estreita entre pessoas por afeição.
Empecilho; a causa de dificuldades:
teve nós durante a vida.
A parte que corresponde à articulação da falange dos dedos.
Parte mais rígida, inflexível e de formato arredondado da madeira.
Cada seção do caule ou do ramo em que é possível nascer
novos ramos, folhas etc., definida por uma protuberância do tecido.
Nodo; numa onda estacionária, o ponto cujo deslocamento é nulo.







TEXTOTEXTIL




Encontro-me continuamente manipulando fios entre os dedos. Andando em linha reta pelo Rio Vermelho encontrei as fibras de um coqueiro, e as teci e escrevi sobre elas. Os coqueiros estão presentes por toda a orla, se entrelaçando na paisagem da cidade com suas folhas e seus frutos. Numa caminhada, procurando elementos curiosos, avistei uma pequena trança feita das folhas de um coqueiro, na areia da praia.  O curioso é que aquelas fibras estavam por toda parte, mas não como aquelas entrelaçadas. Provavelmente algum visitante da praia que o fez enquanto contemplava o mar. Fazer um tecido envolve muitas etapas. O processo lento, envolve concentração e organização. O erro afeta toda estrutura e refazer é trabalhoso. Com o tempo, a técnica se aprimora e deixa de parecer tão complexa. Quando se domina a técnica, tece o que quiser. Tecendo as folhas, de forma experimental alcancei resultados inesperados e muito diversos. Acredito que também seja assim com a escrita. No contexto que me envolvo tenho criado têxteis e textos. A trama que parecia complexa o bastante, revelou-se enredo. O que era apenas têxtil passa a ser também textual. Mas o que é um texto senão linhas de palavras organizadas? Um tecido de palavras e pensamentos. Linhas de palavras, frases, que formam poemas, novelas. Que vão se conectando e formando textos cheios de sentido. Não me surpreendi ao entender a origem da palavra texto, que vem do latim, textu, "tecido", de texere, "tecer".  Curioso, o sinônimo de texto é teor, que lembra tear e assim continua a teia de conexões sem perder o fio da meada.

Bartira Lôbo

























Tecido social

"Então minha sogra vem me visitar e traz com ela um rolo enorme de tapete de casamento com mais de 10m de tecido. Ela me contou que o tapete passou por vários casamentos no qual contratavam o serviço de floricultura em que trabalhava. Analisando o tapete, ele é lindo, tem arabescos em relevo, uma cor bege que é facilmente combinada com outras cores e muito maleável para um tapete mas também com uma boa textura. Mix de passados, um caminho de retalhos”.

Ozelim






CASANDO
COM O FUTURO




ROUPA E MEMÓRIA









ANCESTRALIDADE,
APROPRIAÇÃO E REPARAÇÃO





FINTURA

35 anos!
Nos fazem acreditar que o fim está dado e está próximo!
Não temos mundos garantidos, não temos projeções e a vida está entre brechas; estamos lançadas na imensidão de um abismo de violências cotidianas, ora em histeria, ora silenciosamente permitida & institucionalizada.

Há mais de 400 anos, Xica Manicongo e Tibira do Maranhão foram perseguides, torturades e condenades a terem suas mortes espetacularizadas numa tentativa de apagamento de suas identidades, num processo de HOMOTRANSFOBIA que bebeu do seu próprio veneno; hoje Xica e Tibira são símbolos das nossas existências como corpos dissidentes desviantes da hegemonia cristã, patriarcal e heteronormativa.

Falar dessas memórias é relembrar o caminho de um movimento tão longamente apagado e violentado, é um olhar e uma perspectiva a trazer luz às nossas realidades, demandas e urgências buscando romper essas narrativas a fim de construirmos novos horizontes e novas territorialidades com novas reverberações.

Pessoas T são pessoas.
Estamos no aqui e no agora!
Corpas presentes que impulsionam políticas de transformações radicais na sociedade e, independente de como nos sentenciam, sempre existimos e seguiremos existindo, criando rotas de fuga para viver em plenitude, arte para recriar imaginários como possibilidades de existência, escapar das violências, organizar a raiva e reinvindicar a vida, hackeando uma história da qual nunca foi permitida fazermos parte.

Sim! É rebeldia!
E que todes se rebelem nesse movimento de TRANSmutação das alegorias de gênero em mistérios enigmaticos da espécie; somos cyborgues transbricoladas de futuro & dotadas de tecnologia ancestral que foram herdadas de nossas mais velhas trans amefricanas latinas - e viveremos nelas, através delas e em suas memórias.

É ENCANTRAVAMENTO!
A cisgeneridade blasfemará contra si própria!
O feitiço está lançado!
E com navalhas e garras afiadas anunciamos a insustentabilidade do CIStema!

Estou aqui!
Estamos aqui!
Sou uma e sou todes!
Somos as brechas e as possibilidades!
Eu sou o seu fim e hoje não vou morrer!












Bruna Ferreira Soares
@abacaximeu / @bbruna_fs
site: instagram.com/abacaximeu
e-mail: brunafersoares21@gmail.com

Bartira Lôbo
@bartiralobo e @belatrama
site: instagram.com/belatrama
e-mail: bartira.Ip@gmail.com

Arthur Doomer
@arthurdoomer / @arthurdoomerloja
site: www.arthurdoomer.com
e-mail: contato@arthurdoomer.com

Bruno Cosme Mendes de Almeida
@cosmemachine / @almecosme
site: linkedin.com/bbrunomendes
e-mail: bbrunomendes@live.com

Barbara Ozelim
@ozelim_oz
e-mail: diepyodie@gmail.com

Brendo Mathias
@brendomathias/ @brendomathiasshop
e-mail: conta233brendo@gmail.com