PROGRAMA POROROCA


Instituto Casa de Criadores


coletiva presentes futuras





A Retomada









MANIFESTO

RETOMAR é viver
No dicionário, retomar é tornar a tomar (algo concreto ou abstrato, que se perdeu); recuperar, reaver ou, ainda, dar continuidade a; continuar (o que foi interrompido). Nos perguntamos então, o que estamos retomando? O que nos foi tirado e precisamos recuperar, reaver, ou mesmo, dar continuidade a algo que foi interrompido?

Estas perguntas guiam o trabalho exposto aqui. E buscamos as condições necessárias para que, com pensamentos e materialidades, possamos respondê-las.

Os nossos encontros são, em si, manifestos. Manifestamos o nosso desejo de preservar e continuar – que é uma forma de luta insubordinada e silenciosa; para quem nasceu sem a garantia do dia seguinte, continuar e perseverar, especialmente na criação de novas formas de mundo, é uma maneira de lutar.

Carolina de Jesus em célebre frase-manifesto nos diz: “Uma palavra escrita não pode ser apagada, o papel vai sempre guardar o relevo das letras escritas, ninguém vai apagar as palavras que eu escrevi”. Essa fala ecoa no encontro e na garganta das 16 mulheres e nos faz falar-escrever em manifesto-coletivo, em muitas palavras e uma só voz!  A moda nos une, a arte nos atravessa, a criatividade sempre inspira e mesmo que o mundo nos abale, é ele que queremos transformar, por isso ressoa a pergunta: Qual Moda, para qual Mundo?

Os materiais que temos para isso são as nossas próprias vidas, nossos desejos e impulsos de criação. E, coletivamente, a decisão por retomar algo tem a ver com revisitar pedaços e retalhos esquecidos de nós mesmas e de memórias familiares. Estamos revisitando não só os registros de família, mas também recordações ancoradas e percebidas no corpo – gestos, lembranças e sensações que integram a construção do afeto, que nesta nossa roda coletiva é uma estratégia. O afeto é uma força e também uma memória que movimenta, algo que elabora a nossa presença no mundo. Costurando pedaços de tecidos das muitas regiões do Brasil, feito por todas as nossas mãos/corpos, buscamos retomar os nossos próprios territórios sensíveis, a dimensão da força e do afeto como estratégia de produção de vidas e mundos.

A escolha pelo fuxico como princípio estrutural relaciona assuntos que consideramos de suma importância: história, memória, reunião de mulheres, anti-colonialidade, reaproveitamento de material, habilidade manual associada à transmissão oral. Sendo uma das formas de artesanato mais tradicionais do nordeste brasileiro, sabe-se que teve origem nas senzalas a partir de retalhos e de roupas velhas das casas-grande. Manteve-se como umas das principais formas de artesanato das mulheres de baixa renda e só ganha destaque e muda de status no começo dos anos 2000 pelas mãos de estilistas em grandes eventos de moda. 

Estar em roda, nesta roda coletiva, tecer juntas uma colcha de retalhos de fuxicos nos faz reconhecer a potência, o poder e o cuidado do tempo – o passado que se desdobra no presente e cria as linhas de futuro, outros tempos que virão.

Estar em processo de retomada nos faz perceber que algo que nos foi roubado tem que ser reavido. Este algo se relaciona diretamente com a nossa noção de identidade e a nossa subjetividade, uma vibração viva que ressoa em nossas vidas e corpos. E isso traz a coragem necessária para olhar para nossas próprias histórias e não nos desviarmos delas, não as escondermos, antes, retomar os nossos próprios territórios e fortalecê-los. Retomar o nosso passado ancestral, mas também a criança curiosa – uma criança é sempre uma artista.  Enxergar em nós as avós, as madrinhas, as irmãs, uma teia, uma mistura confusa de mulheres passadas e presentes que nos atravessam e nos compõem. E parte desse movimento de ver o antes de nós passa pela negação, pelo auto ódio,  pelo ódio às outras, as que pacientemente nos ensinaram. A retomada é dolorida, mas é a única possibilidade de reencontro – de si consigo mesma, de si com o mundo. A cura é o mistério do encontro.

O lugar da invisibilidade nos cabia, mas não cabe mais! Retomada é o nosso processo de auto permissão, autorizada por nós mesmas a nos afetar, sentir... costurando os pedaços de um velho eu no encontro e vibração de muitos novos eus, que na coletividade encontram ressonância.


O curta “Retomar é viver” foi desenvolvido pela Coletiva Presentes Futuras (@coletivapresentesfuturas) e é um dos materiais entregues no trabalho final do grupo no curso “Qual moda, para qual mundo?” da Instituta Casa de Criadores. Ele conta com a leitura uníssona do manifesto construído coletivamente no decorrer dos seis meses e faz a síntese dos planos que ligam os três tempos, junto às imagens do processo do grupo, da costura e realização de sua peça coletiva, fruto do entrelaçamento dos pedaços de tecidos e histórias que carregam advindas de todas as regiões do país. Diferentes mulheres conectadas pelo desejo de retomar a si e suas agências, e encontram na moda o caminho para outros tempos, saberes e mundos reverenciando a memória de nossas mais velhas, encontrando-se no fazer manual, fuxicando e costurando sonhos, medos e desejos construindo o mundo que queremos hoje para saudar as futuras.


Manifesto | Download


Campo comum


O encontro de diferentes trajetórias, de diferentes mulheres, de diferentes territórios conectadas pelo desejo de retomar a si e suas agências, e encontram na moda o caminho para outros tempos, saberes e mundos reverenciando a memória de nossas mais velhas, reencontrando o fazerem manuais, fuxicando não apenas retalhos de tecidos mas também costurando sonhos, medos e desejos construindo o mundo que queremos hoje para saudar as futuras.












movimentos
"falar das nossas e dos rearranjos.”
"vida como criação, empreender vida."
“a cura é o mistério do encontro.”
"imaginação radical: viver de uma forma plena."
"evocar o invisível e construir futuras."


Territórios


Mapa da Potência





Créditos

Agradecimentos

As que vieram antes de nós, abrindo e guiando o caminho. As contemporâneas, com quem continuamos na jornada por um futuro melhor para todes.

Instituto Casa de Criadores
Karlla Girotto
Carol Barreto
André Hidalgo
Dudx
Adriele Regine
Alzira Incendiária

Sebrae

Todes es convidades que somaram aos debates pela construção de um conhecimento anticolonial, nos fazendo refletir profundamente sobre "Qual Moda, para Qual Mundo?".


Integrantes da Coletiva Presentes Futuras

Karine de Souza (@karinedesouzza)
Karla Oliveira (@bl4ck_unicorn)
Karolline Macedo (@karolsmacedo)
Kate da Silva (@katss.makeup)
Katherine Ikwueme (@katherineikwueme)
Keller Gomes (@kellergomees)
Kelly Santos (@kellysan_)
Kezia Alcântara (@kezialcantara)
Laíse Santos (@sweetblackpower)
Larissa Lira (@axeiarte_larissa)
Laura Grubba (@laura.grubba)
Laura Nascimento (@laufestyle)
Lidyane Souza (@lidyanesq)
Lizandra Mascarenhas (@lizandra_mascarenhas)
Lorena Franco (@nenafrancoo)
Luana Caboclo (@ilulustrando)


Imagens (fotografias e vídeos) Coletiva Presentes Futuras

Edição de vídeo
Karla Oliveira

Edição de som
Lidyane Souza

Curadora
Karlla Girotto

Para maiores informações
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